As medicinas milenares na vida contemporânea
Por Paula Gribel
O que constrói um sistema saudável e forte são pequenas rotinas de cuidado pessoal, detalhes que nos sustentam e fortalecem. Não estamos completamente imunes a nada e nem temos a cura de todas as doenças físicas, mentais e espirituais. O que podemos fazer, então, é nos fortalecer em solo fértil e aprendendo com os ancestrais, com a natureza e com as medicinas milenares que estão milênios à nossa frente.
Alguns detalhes, como um pouco de disciplina e conhecimento do próprio corpo, fazem uma grande diferença na hora de lidar com os desafios. As medicinas orientais e a medicina energética nada têm de alternativo e esotérico. Elas são nossa verdadeira medicina de base – precisa e eficaz – e influenciaram todas as outras medicinas que comandam nossos processos de cura há mais de 10 mil anos, sendo capazes de transformar os rumos do nosso corpo antes mesmo da manifestação ou aprofundamento do problema físico, sendo esse só a materialização de uma questão energética, emocional e espiritual preexistente.
A visão sistêmica da saúde é a visão macro, integral, interligada e indivisível de todas as partes e sistemas que nos compõem. Assim, o restabelecimento e o equilíbrio só acontecem levando em consideração todas as camadas e interações do nosso universo interior e exterior.
A grande evolução é integrar toda a tecnologia e recursos da medicina moderna com o conhecimento das medicinas milenares, como a Medicina Chinesa, a Medicina Ayurvédica, a fitoterapia (de onde sai a base para todos os medicamentos existentes no mundo) e a naturologia (ciência que promove o equilíbrio do corpo através dos elementos da natureza, como vitaminas, oligoelementos, alimentos, ervas, óleos medicados e técnicas de cuidado com a mente, como a meditação, com ampla comprovação científica na atualidade).
Primeiramente, é fundamental conceituar que a Medicina Tradicional Chinesa (MTC) não é sinônimo de acupuntura. A MTC envolve a utilização de fitoterapia (fórmulas magistrais contendo ervas), meios físicos (como calor e massagem), técnicas corporais (como dieta e exercícios), práticas de respiração e meditação, ventosaterapia, auriculoterapia, entre outras. A Medicina Tradicional Chinesa tem sido praticada rotineiramente na China, Japão, Coréia e Taiwan. Ainda hoje, em países asiáticos, é uma parte do conjunto do sistema de atenção à saúde. A MTC é eminentemente um sistema de promoção da saúde. Seu escopo principal é a prevenção de doenças. Assim, é um relativo engano ocidental recorrer a Medicina Tradicional Chinesa e às outras medicinas milenares apenas quando se está gravemente doente.
A partir dos anos 1970, a Medicina Chinesa começou a ganhar popularidade no Ocidente devido à sua origem milenar, sua segurança e eficácia. Nesta época, pesquisadores ocidentais associaram a eficácia analgésica da acupuntura à ativação de opióides endógenos porque, de fato, a acupuntura afeta os níveis liquóricos de endorfina e encefalina. Posteriormente, foram descritos outros mecanismos de ação para a eficácia da acupuntura com efeitos fisiológicos e clínicos, que podem ser explicados por liberação de opióides endógenos, modulação de hormônio adrenocorticotrófico e modulação de expressão gênica de neuropeptídeos.
Usando somente a anatomia, não é possível explicar como agulhas inseridas nas pernas ou nos pés podem tratar cefaléia, ou como pontos nos braços podem ter relação com o coração, por exemplo. Porém, tomando conhecimentos da Embriologia, estas correlações são possíveis. Já a Histologia se encarrega de demonstrar que os pontos de acupuntura têm maior concentração de capilares, mastócitos e terminações nervosas.
O tratamento de doenças pela acupuntura auricular tem reforço pela neuroanatomia funcional, pela estimulação do ramo auricular do nervo vago, modulando o funcionamento parassimpático. O reflexo cutâneo-visceral cria interações entre a superfície do corpo e o sistema nervoso autônomo, explicando a ação da acupuntura sobre o funcionamento de órgãos internos.
Uma utilização notável da fitoterapia chinesa ocorreu em 2003, durante a epidemia de Síndrome Aguda Respiratória Severa (SARS) em Hong Kong. Na época, foram registrados 1.755 casos suspeitos ou confirmados. Um estudo dividiu os funcionários de 11 hospitais em dois grupos: em um deles, os funcionários receberam fototerapia profilática por duas semanas. No outro grupo, não ocorreu esta intervenção. Nenhum dos funcionários do Grupo que fez fitoterapia contraiu a SARS, o que ocorreu com alguns indivíduos do Grupo controle. A diferença foi estatisticamente significativa.
Numa etapa seguinte, pacientes com diagnóstico de SARS, que estavam com limitações ventilatórias, mas não estavam fazendo reabilitação respiratória, receberam fitoterapia. Eles tiveram melhoras no teste de marcha de seis minutos e no teste de força de preensão manual equivalentes ao grupo que fazia reabilitação. Os pacientes que receberam fitoterapia tiveram tempo menor de internação, menor necessidade de corticóide e melhora dos sintomas relacionados.
A acupuntura apresenta efeitos comprovados em diversas condições clínicas, documentados na literatura científica. A base científica para os outros componentes da Medicina Chinesa está em ascensão. A prática das medicinas milenares junto com práticas corporais e mentais como o Chi Kung, Tai Chi e a meditação tem sido usada por séculos na Ásia para melhorar o bem-estar e reduzir o estresse psicológico.
Somos seres integrais: corpo, mente e alma. Nosso corpo é o veículo que materializa o sentido e o propósito da nossa existência, segundo a Psicogenealogia. A mente é alocal, também é atemporal e sabemos que temos com ela a capacidade de comunicação e acesso a outras realidades e outras mentes, independente do tempo e do espaço. Acreditamos em wi-fi e Dropbox, mas muitos são céticos em acreditar que também acessamos um banco de dados mentais, a que JUNG denominou Inconsciente Coletivo.
A acupuntura e a medicina chinesa em sua totalidade vêm chamando a atenção da comunidade científica por recentes trabalhos científicos comprovarem a sua eficácia. Exames de ressonância magnética e estudos científicos evidenciaram uma modificação nas cores quando são colocadas agulhas para determinadas funções. Isso demonstra cientificamente que o cérebro responde aos comandos recebidos à distância, na pele.
Outra comprovação importante é reconhecida pela mudança química do sangue, dosando as substâncias analgésicas antes e depois da aplicação da acupuntura. Nestes casos, exames de sangue mostram numericamente que as substâncias analgésicas, como serotonina, por exemplo, aumentam após a aplicação das agulhas. Dessa maneira, é possível comprovar bioquimicamente que o estímulo das agulhas faz o corpo produzir uma química analgésica, anti-inflamatória e estimulante.
Um percentual alto de mais de 80% das pessoas que buscam a acupuntura querem acabar com algum tipo de dor, sendo óssea, visceral ou emocional, bem como desequilíbrios neuroendócrinos. Com as descobertas dos mecanismos de analgesia e das substâncias que a produzem, chegamos a uma comprovação concreta do uso da acupuntura e de sua eficácia, fazendo com que todas as instituições tradicionais hoje admitam a eficiência no uso da técnica.
Essa abertura em virtude das pesquisas e comprovações científicas, faz com que aumente a procura pelo tratamento e proporciona oportunidades para que os médicos ampliem seus conhecimentos e recursos terapêuticos. A acupuntura é comprovada oficialmente como o primeiro método eficiente de analgesia, usada há milênios, e que na mesma hora que é ativada, manda estímulos para o organismo combater a dor.
A medicina chinesa também vem sendo usada de forma preventiva, estimulando o organismo na produção de células de defesa para que a pessoa esteja protegida contra o desenvolvimento de vírus e bactérias. Além disso, a especialidade é utilizada na melhoria da qualidade de vida dos pacientes, como na recuperação de pessoas que sofreram Acidente Vascular Cerebral (AVC).
Podemos perceber hoje, com os avanços da medicina moderna, a grande relação sobre as causas de diversas doenças, há séculos mencionada pelas medicinas milenares, como por exemplo a enorme importância da saúde intestinal para a incidência de doenças crônicas e autoimunes. Outro exemplo é a recente comprovada ação no ocidente da meditação, técnicas de respiração e mindfulness, relatadas e propostas há milênios, para promover a saúde física, bioquímica e emocional.
Atualmente vemos um lindo caminho sendo trilhado pela Medicina Integrativa (com base sólida nas Medicinas Milenares) no ocidente, atuando como forte aliada aos tratamentos tradicionais para o equilíbrio do organismo, bem-estar, restauração da saúde e alívio de sintomas.
Acredito fortemente que o caminho será a fusão do melhor da medicina tradicional chinesa e das medicinas milenares com o melhor da medicina ocidental, possibilitando mais opções de tratamento e atenção à saúde das pessoas.